sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Cine Holliúdy, de Halder Gomes



CINE HOLLIÚDY: UMA PIADA*

Alfredo Werney

            “No mínimo, uma experiência válida!”, assim ouvi alguém exclamar ao sair da sala de cinema do “Teresina Shopping”, após a exibição da comédia cearense “Cine Holliúdy” (2012), dirigida pelo cineasta Halder Gomes. De fato, em um espaço carente de produções cinematográficas como o Nordeste (E porque não dizer o Brasil?), não deixa de ser uma experiência valiosa a construção de uma espécie de “Cinema Paradiso do Sertão”. Digo “Cinema Paradiso” (Nuovo Cinema Paradiso, 1988), porque o clima de nostalgia, o tema abordado, o enredo, algumas personagens burlescas do filme, faz-nos realmente lembrar a película do diretor italiano Giuseppe Tornatore.

            Francisgleydsson (Edmilson Filho) é um sertanejo apaixonado por cinema e dedica sua vida a essa arte, embora tenha consciência de que o resultado financeiro de sua empreitada não é satisfatório. Nessa aventura cheia de nostalgia e de certo “romantismo”, está presente também sua esposa, a Graciosa (Miriam Freeland) e seu filho “Francin”. A família chega à pequena cidade de Pacatuba-CE, na década de 70, para erguer o fabuloso “Cine Holliúdy” e lutar para conseguir sucesso, mesmo sabendo do surgimento da TV – uma grande ameaça para a sétima arte. O cinema de Francisgleydsson e de sua família se torna para a cidade um verdadeiro espaço de catarse, de diversão, de socialização dos problemas íntimos e dos problemas políticos daquela comunidade. Por meio dele conhecemos os diversos “tipos” que a cidade abriga: o político corrupto, a mulher orgulhosa, o bêbado divertido, o gay agitado, o valentão e o cabra macho, o cego, o doido, dentre outras figuras excêntricas.

            O filme de Halder Gomes, que surgiu a partir do curta-metragem “Cine Holiúdy – o Astista contra o Caba do Mal” (2004), procura realizar uma instigante reflexão sobre o poder de comunicação e de catarse que o cinema possui. A obra retoma a época em que o cinema era uma arte repleta de nostalgia e que abrigava um número grande de público – tempo anterior ao aparecimento da televisão. Vale lembrar, que, nesses tempos, as pessoas participavam da sétima arte de uma forma mais efetiva – tarefa esta certamente desempenhada pelas telenovelas atuais.  Nas telas as pessoas depositavam seus sonhos, realizavam por meio das cenas de violência suas catarses diárias, apaixonavam-se pelas personagens e deixavam cada fotograma do filme impregnar na sua existência cotidiana. Porém, não há como negar: o filme é cheio de imprecisões e de fragilidades. A montagem é confusa (perde o fio narrativo e não se sustenta nos momentos de clímax), os atores são exageradamente caricaturais e dramáticos (as crianças mais parecem ler as piadas do que atuar na cena), a música do filme é apenas um retalho de canções sem nenhuma unidade estilística e o roteiro está povoado de gags desnecessárias e de chavões.

            A impressão que tive ao ver a película é que se trata de um cinema feito para agradar, a qualquer custo, o público nordestino (em especial o cearense, evidentemente). Público este que, na maioria das vezes, não se sente representado pelas telenovelas e pelo cinema nacional. Reclamam da imagem que a TV cria do povo do Nordeste. “Cine Holliúdy” não consegue se desvencilhar das amarras do estilo “Globo Filmes” (refiro-me às comédias “Lisbela e o Prisioneiro” e “Auto da Compadecida”), pois é uma obra que apela para o pitoresco, que cria inúmeros lugares comuns e que troca a plasticidade visual pela simples e “requentada” anedota. Lembro-me de uma cena em que a personagem Graciosa vai consultar a médica e descobre que, na realidade, não possui nenhuma doença. É uma cena gratuita, sem nenhuma funcionalidade e totalmente desconectada do fio narrativo. Estou certo de que esta sequencia foi feita apenas para produzir o riso fácil e criar mais uma piada. Isto é, na visão do diretor é melhor perder o cinema do que perder a piada.

            Ainda assim, há momentos de certa beleza nostálgica, como a cena final em que, para esconder do público o fato de o projetor não estar mais funcionando, Francisgleydsson continua a narrativa do filme na sala de projeção por meio de sua fala e de seus gestos. Ele cria através desse momento de improviso uma espécie de teatro mambembe - o que nos faz relembrar a trajetória do próprio cinema, que, em seus primórdios, foi uma espécie de teatro filmado. Há também personagens que agradam pela atuação despojada, como o cego ignorante e desbocado representado pelo humorista cearense Falcão.  Porém, podemos asseverar: não se trata de um trabalho representativo, de uma experiência estética importante para o cinema brasileiro. É puro entretenimento! E até mesmo como entretenimento deixa a desejar, em virtude das quebras de ritmos da montagem, da ineficiência da trilha musical (que apenas serve como um pano de fundo para as imagens, isto porque não desempenha nenhuma função narrativa), do excesso de expressões das personagens e das falas que, muitas das vezes, são meras piadas (algumas delas já bem conhecidas do público que frequenta as redes sociais).

            Mas, se a intenção do expectador é apenas levar a família para comer pipoca e se deleitar com a dicção do “cearensês” (que, de fato, é um “idioma” muito divertido e curioso), vale a pena se deslocar até as salas de cinema. A obra é bastante engraçada e teve um público considerável nos cinemas do Ceará. Entretanto, se quisermos algo além do riso fácil e da comicidade fabricada sem nenhuma beleza plástica, não vale indicar “Cine Holliúdy”. Deixe de “botar-boneco” e procure outro filme, macho!




*Depois de um longo tempo fora do ar, devido a elaboração de minha dissertação de mestrado, retomo o blog. Sejam bem vindo caros amigos leitores

21 comentários:

  1. “IX CONCURSO PLÍNIO MOTTA DE POESIAS”

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  2. Permita-me discordar de sua crítica.
    Se a montagem fosse confusa a ponto de perder o que você chama de “fio narrativo” e “não se sustentar nos momentos de clímax”, você não teria entendido a cena que elogiou (Francisgleidsson explicando o filme), que, na verdade, é ÚNICO clímax do filme.
    O fato dos atores serem exageradamente caricaturais para você, que não mora no Ceará, não é propriamente um defeito.
    Só há um personagem dramático no filme – Graciosa –, ao contrário do que diz.
    Ao contrário do que diz, as canções do filme tem unidade estilística: todas são bregas e tocavam no Ceará nos anos 70.
    Não é uma obra que apela para o pitoresco – na verdade, a realidade do Ceará nos 70 é, REALMENTE, pitoresca. Aquela é a verdade do tempo e do espaço. Pergunte a quem viveu.
    Todas as piadas são novas.
    A cena em que a personagem Graciosa vai consultar a médica e descobre que, na realidade, não possui nenhuma doença, foi necessária para que, ao final do filme, se explicasse que a esposa do protagonista estava tendo, ao invés de uma enfermidade, uma previsão do sucesso do cinema Francisplex. Se essa cena não existisse não faria sentido a elipse de tempo em que se tornaram reais as visões de Maria da Graça. Taí porque não é “uma cena gratuita, sem nenhuma funcionalidade e totalmente desconectada do fio narrativo”. Quem “perdeu o cinema” foi você.
    Ainda bem que você acha que “não se trata de um trabalho representativo, de uma experiência estética importante para o cinema brasileiro”; seria esquisito que Cacá Diegues e Fernando Meireles, que reputam o filme perfeito tecnicamente e genial, concordassem com você.
    Que pena que o filme “é puro entretenimento”. Da próxima vamos torcer para fazerem um filme que não diverte, ok?

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    1. Agradeço a sua atenção de ler o texto, mas só respondo no meu blog as pessoas que se identificam. obrigado...

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    2. Nao redponde mas ja respondeu...

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    3. E por que você não se identifica? qual é o problema? tem medo de que?

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    4. Não fui eu que repliquei ("não responde mas já respondeu"). Meu nome é Haroldo Guimarães. Abraço.

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  3. Querido, assista ao filme mais umas 3 vezes, pode ser que vc entenda alguma coisa...pq com essa sua crítica, me parece que vc não viu ao filme...

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  4. Bem na sua pleura, seu imbecil. Vá estudar pra ve se faz algo melhor que falar merda.

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  5. O filme é perfeito, muito bem articulado. O "problema" p/ o crítico supra é que se trata de uma obra genuinamente nordestina e, pelo que se observa, o crítico não assimila a possibilidade de o nordeste, apesar de toda sua cultura, concluir um projeto de cinema agradável sob os mais variados aspectos de vistas. Macho, o filme, na minha opinião, é xibata! Meus ói ficaram sem nem piscar. E mais: lá se foi a prega rainha! Macho véi, o filme é show!

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  6. Alfredo, sinceramente, vc foi muito infeliz nessa sua crítica. Não vou me alongar, vou apenas dizer que vc vai se arrepender de ter escrito essas asneiras quando o filme for aclamado pelo público... mas pera aí, ele já é aclamado, e é isso que interessa!

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  7. Você assistiu o filme? Alfredo, vá novamente ao cinema, veja o filme e preste atenção!

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    1. Não assisti o filme não amigo. Eu prefiro fazer a crítica primeiro depois ver o filme. Fica mais interessante, não é?
      Também acho melhor comer o almoço antes de cozinhá-lo. Interessante, não?

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  8. Meu caro: no dia em que o cinema deixar de ser puro entretenimento, o cinema acaba. O cinema e a catarse. Não sou cearense. Fui ver e gostei. Ri até à catarse. Acredito na sua sinceridade. Respeito a sua opinião. Mas, como me ensinou o meu pai, "crítica construtiva sempre. Se for negativa, mostra um caminho melhor. Se um dia alguém te criticar, aceita a crítica. Não de quem saiba mais mas de quem faça melhor." Presumo que você seja um jovem citadino, que não viveu o lento desenvolvimento do interior. Mesmo sendo de Teresina. Como músico, que também sou, sei que gostaria de uma trilha sonora tipo "The good, the bad and the uggly", mas não podia ser. A música de raiz nordestina, tipo pé de serra, não obedece aos requintes eruditos. As piadas não são originais mas são bem encaixadas. Pense em Cine Holliúdy como um documento ficcional cearense. Pura diversão. Puro cinema. Abraço, António Leitão

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    1. olá amigo. obrigado pela visita. Eu vivi sim...nasci no interior do Piauí e inclusive meu bisavô é cearense, de uma cidade bem pequena. Conheço bem esse clima do interior. Não acho que a trilha tinha que ser aos moldes de Morricone...mas a boa trilha tem unidade, tem funcionalidade. é o que a música de Cine Hollyúde não tem. hpa apenas uma junção de canções que não funcionam, não acrescentam nada..só repetem a obviedade das imagens; sobre a questão de quem criticar tem que fazer melhor discordo totalmente. a função do crítico não é mostrar como se faz um filme, mas apontar determinados aspectos da construção de sentido do que foi feito. Se fosse assim, teríamos que exigir ao Ismail Xavier que ele fizesse filmes melhores do que os de Glauber Rocha, já que ele criticou e analisou o cineasta baiano. É um absurdo. De qualquer forma, agradeço a atenção e respeito suas ideias. abraço....

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  9. Sinto cheiro de despeito, inveja, preconceito... sua fraca, falha e distorcida visao do filme deve vir do fato de voce nao ser nordestino e talvez nao esperar que daqui "dessas bandas" possa sair algo tao brilhante. Um conselho, veja de novo, leve os oculos, o dicionario da cultura local e uma boa pipoca, mas, deixe o preconceito em casa.
    Pr. Renato Campos

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    1. Muito pobre seu comentário. Se você ler o blog verá que sou de Teresina (Teresina fica no Nordeste, sabia?). E quando escrevo sobre um filme,tanto faz o cineasta ter nascido no Peru, na Argentina, em Timom, em Caucaia, na Alemanha ou no Chile. Eu analiso filmes....sem utilizar critérios geográficos, mas sim estéticos. E o filme é ruim mesmo, sob todos os aspectos. não precisar ver várias vezes não. Há ali apenas um momento de entretenimento. A montagem é mal feita, a música não funciona, os atores são demasiado caricaturais. Agora se você tem uma crítica melhor do que a que eu fiz, me manda que eu publico nesse blog. O que não dar é pra ficar me tratando com ojeriza, sem argumentar consistentemente.abraço

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    2. Outra coisa: não tenho inveja de quem faz filmes não, nem cineasta eu sou. Fico até feliz pelas produções que vêm surgindo na região nordeste. Inclusive o Ceará é um dos estados que mais abriga grandes cineastas hoje, como Karin Ainouz e Rosemberg Cariri, Petrus Cariry. Quando faço a crítica a um filme, ela não deve ser entendida como uma crítica as pessoas que fizeram o filme. A obra de arte é aberta....

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  10. Parabéns pela crítica Alfredo. Concordo plenamente com suas palavras. Sou nordestina e amo essa região, mas nem por isso vou ser defensora de um filme que deixa a desejar em vários aspectos.
    Luciana Soares

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  11. Pessoal sou de Carolina do Maranhão e gostaria de deixar meu blog para vocês darem uma olhada, principalmente Halder Gomes, meu nome é Tiago Mendonça e trabalho na Secretaria de Saúde do município, meu blog é: transcendendo-me.blogspot.com, grato, um abraço a todos.

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  12. Se o Brasil olhasse para o Nordeste veria um valor absoluto incalculável.

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