domingo, 19 de abril de 2009

miniaturas III


O CINEMA DE TARANTINO


Wanderson Lima*




Quentin Jerome Tarantino (Knoxville - EUA, 27 de março de 1963) ficou conhecido mundialmente no início da década de 1990 por seus roteiros engenhosos e não-lineares e a exploração inovadora do tema da violência, em filmes recheados de citações, em que se fundem paródias de filmes B de artes marciais, a visualidade do western à italiana de Sérgio Leone e técnicas de filmagem da nouvelle vague francesa. Tarantino é o mais famoso dos jovens diretores propiciadores da revolução de filmes independentes dos anos 90, ao lado de Steven Soudenbergh e Michael Moore. Seu conhecimento enciclopédico de filmes, do trash ao cinema de arte, dos seriados às obras-primas, deve-se ao seu trabalho como balconista na Video Archives, prestigiada locadora de filmes em Manhattan Beach. Lá ele fez amizade com Roger Avary, com quem mais adiante viria a colaborar em Pulp Fiction.
Quentin Tarantino pratica um meta-cinema ou “cinema de citação”. Seus filmes remetem ostensivamente a outros filmes e não a fatos “originais”. A citação irônica pontua cada tomada: vemo-nos em meio a imagens que comentam imagens. Adepto da estética pós-moderna, Tarantino busca fundir em seus filmes diversão e qualidade, sem estabelecer hierarquias que distinguiam alta cultura e cultura de massa. Seus filmes parodiam desde seriados de TV até as grandes matrizes do cinema, mantendo sempre a preocupação de problematizar o lugar do espectador, ironizando-o. Essa ênfase no jogo, na reflexividade e no interdiscurso livra o cinema tarantiniano de qualquer pretensão crítica ou doutrinária. Quase totalmente porque este cinema de citação, que aparenta ser mera diversão, é crítica do cinema ou, mais amplamente, das mídias visuais e de como elas influenciam nossa vida, principalmente nossa postura perante a violência.
Ao contrário do que já se disse, Tarantino não é um apologista da violência. Sua maneira de representar a violência acaba por revelar o caráter representativo, teatral, do discurso fílmico, como se vê em Laranja Mecânica, um nobre antecendente dos filmes violentos dos anos 90. Pulp Fiction , por exemplo, questiona o lugar do espectador e sua relação com a violência. Não temos aí um filme que leia a violência sobre uma ótica sociológica (Cidade de Deus) ou psicanalítica (Laranja Mecânica); Tarantino não compreende a violência como um desvio ou estado de exceção – ela foi simplesmente naturalizada, incorporou-se ao nosso cotidiano, banalizou-se. Em seus filmes, testa-se até onde vai o sadismo do espectador, geralmente através da estetização quase caricata da violência e da freqüente fusão de humor e violência. Nosso riso, assim, torna-se muitas vezes desconfortável, pois nele, a partir dele, nos reconhecemos sádicos. Daí falar-se em “violência irônica” para caracterizar o cinema tarantiniano.
*Wanderson Lima é professor e escritor. Atualmente desenvolve tese de doutorado em Literatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). É autor de vários livros, dentre eles "Reencantamento do mundo: notas sobre cinema".

3 comentários:

  1. Gostaria muito de conhecer melhor um músico tão completo e estudioso das trilhas de cinema...adorei seus comentários! Fiquei fã de seu blog, leitura obrigatória pra mim de hoje em diante! Abraços!

    Vera Landioso

    veralandi@gmail.com

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  2. obrigado agradeço o comentário
    espero que entremos em contato
    alfredoviolao@hotmail.com

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  3. Eu devo ser a unica pessoa do mundo que adora ler sobre cinema sem gostar de filmes.

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