SARAH
MENEZES E OS GUARDIÕES DA PIAUIENSIDADE
Alfredo
Werney
A grande conquista da talentosa Sarah Menezes nas
Olimpíadas de Londres me deixou bastante feliz. Sem dúvidas, é um marco para a
história do esporte no Brasil. Como sabemos, trata-se da primeira medalha do
judô feminino brasileiro em Olimpíadas. Mas observei algo desagradável que vem
acontecendo nas redes sociais e nos blogs (que, obviamente, a atleta piauiense
nada tem a ver com isso): a conquista do ouro nas Olimpíadas serviu para muita
gente expor o velho e ingênuo bairrismo e mostrar (mais uma vez) o complexo de
inferioridade do piauiense.
Sarah virou uma espécie de “salvadora da nossa
piauiensidade”. As pessoas (refiro-me aos guardiões da “piauiensidade” e não a
todos), em vez de apenas comemorarem a merecida vitória da garota, passaram a
fazer ofensas aos atletas do Sul e querer colocar Sarah Menezes contra os
próprios atletas do Brasil. O argumento é que ela “mostrou para os sulistas”
que o piauiense também pode se destacar e que eles, mesmo tendo mais apoio
financeiro e mais estrutura para treinar, não são “nada” perto de nossa
esportista.
Eu acho tudo isso muito ingênuo, pois, antes de qualquer
coisa, Sarah é uma atleta brasileira. E conquistou a medalha na competição olímpica
representando o Brasil e não apenas um estado. Duvido que a própria menina,
inteligente e educada que é, endosse este discurso ressentido. Ela não vê os “sulistas”
como inimigos aos quais ela tem que mostrar o seu poder e afirmar sua
superioridade. Acredito que ela pensa no crescimento do judô brasileiro como um
todo e, com certeza, também torce pelos companheiros judocas de outras terras.
Quando a gente quer sobrepor Sarah aos “sulistas”,
estamos mais uma vez expondo nossas fraquezas e reforçando o preconceito que há
contra os nordestinos. Se ela é uma grande atleta não é pelo fato de ter
nascido no Piauí, ou no Maranhão, ou em São Paulo, ou na Argentina, etc. Ela é
uma grande atleta porque se dedica, porque tem talento, porque treina
arduamente, dentre outras questões.
Em uma postagem no “face book”, um conhecido artista
piauiense (pelo qual tenho muito apreço e admiração) chegou a dizer que não
havia tido tanta comemoração com a conquista da garota. E criticou os
piauienses que torcem para “times de futebol do sul” por comemorarem mais pelas
conquistas de seus times do que pela judoca piauiense. Para ele, isso é um
absurdo, pois demonstra que somos “dominados pela mentalidade sulista”. Meu
amigo, mesmo tendo boas intenções, termina por contribuir para a criação de um
campo de disputas e de conflitos entre nordestinos e “sulistas”.
Há ainda duas observações a serem feitas a respeito dessa
postagem. A primeira é que é evidente que as pessoas comemorem mais pela
conquista de um time de futebol, porque este é um esporte mais popular (de
massa) e há nele mais investimento político e financeiro. O judô, conforme
sabemos, ainda não é um esporte tão popular no Brasil como é o futebol. Além
disso, há pouquíssimos investimentos para essa categoria (A própria Sarah é um exemplo
de luta e perseverança, pois ainda tem dificuldades em conseguir apoio
financeiro para dar prosseguimento a sua carreira). A segunda observação é que
o fato de gostar do Corinthians, Palmeiras, Flamengo, Vasco ou São Paulo não
elimina a nossa torcida pela judoca teresinense. Uma coisa não exclui a outra. Na
verdade, cada um é livre para torcer e gostar de quem quiser.
Espero que a grande conquista de Sarah Menezes, que
deixou não só os piauienses felizes e orgulhosos (mas também os maranhenses, os cearenses,
os paulistas, os cariocas, além de outros), não continue sendo um desencadeador
de ojerizas contra os “sulistas” e nem seja mais um momento de exposição do
nosso complexo de inferioridade. Sou piauiense e gosto muito do Piauí, mas luto
veementemente contra esse bairrismo pueril e contra essa onda preconceituosa
“anti-sulista”. Salve Sarah Menezes, judoca brasileira!
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