quinta-feira, 2 de agosto de 2012





SARAH MENEZES E OS GUARDIÕES DA PIAUIENSIDADE

Alfredo Werney

            A grande conquista da talentosa Sarah Menezes nas Olimpíadas de Londres me deixou bastante feliz. Sem dúvidas, é um marco para a história do esporte no Brasil. Como sabemos, trata-se da primeira medalha do judô feminino brasileiro em Olimpíadas. Mas observei algo desagradável que vem acontecendo nas redes sociais e nos blogs (que, obviamente, a atleta piauiense nada tem a ver com isso): a conquista do ouro nas Olimpíadas serviu para muita gente expor o velho e ingênuo bairrismo e mostrar (mais uma vez) o complexo de inferioridade do piauiense.

            Sarah virou uma espécie de “salvadora da nossa piauiensidade”. As pessoas (refiro-me aos guardiões da “piauiensidade” e não a todos), em vez de apenas comemorarem a merecida vitória da garota, passaram a fazer ofensas aos atletas do Sul e querer colocar Sarah Menezes contra os próprios atletas do Brasil. O argumento é que ela “mostrou para os sulistas” que o piauiense também pode se destacar e que eles, mesmo tendo mais apoio financeiro e mais estrutura para treinar, não são “nada” perto de nossa esportista.

            Eu acho tudo isso muito ingênuo, pois, antes de qualquer coisa, Sarah é uma atleta brasileira. E conquistou a medalha na competição olímpica representando o Brasil e não apenas um estado. Duvido que a própria menina, inteligente e educada que é, endosse este discurso ressentido. Ela não vê os “sulistas” como inimigos aos quais ela tem que mostrar o seu poder e afirmar sua superioridade. Acredito que ela pensa no crescimento do judô brasileiro como um todo e, com certeza, também torce pelos companheiros judocas de outras terras.

            Quando a gente quer sobrepor Sarah aos “sulistas”, estamos mais uma vez expondo nossas fraquezas e reforçando o preconceito que há contra os nordestinos. Se ela é uma grande atleta não é pelo fato de ter nascido no Piauí, ou no Maranhão, ou em São Paulo, ou na Argentina, etc. Ela é uma grande atleta porque se dedica, porque tem talento, porque treina arduamente, dentre outras questões.

            Em uma postagem no “face book”, um conhecido artista piauiense (pelo qual tenho muito apreço e admiração) chegou a dizer que não havia tido tanta comemoração com a conquista da garota. E criticou os piauienses que torcem para “times de futebol do sul” por comemorarem mais pelas conquistas de seus times do que pela judoca piauiense. Para ele, isso é um absurdo, pois demonstra que somos “dominados pela mentalidade sulista”. Meu amigo, mesmo tendo boas intenções, termina por contribuir para a criação de um campo de disputas e de conflitos entre nordestinos e “sulistas”. 

           Há ainda duas observações a serem feitas a respeito dessa postagem. A primeira é que é evidente que as pessoas comemorem mais pela conquista de um time de futebol, porque este é um esporte mais popular (de massa) e há nele mais investimento político e financeiro. O judô, conforme sabemos, ainda não é um esporte tão popular no Brasil como é o futebol. Além disso, há pouquíssimos investimentos para essa categoria (A própria Sarah é um exemplo de luta e perseverança, pois ainda tem dificuldades em conseguir apoio financeiro para dar prosseguimento a sua carreira). A segunda observação é que o fato de gostar do Corinthians, Palmeiras, Flamengo, Vasco ou São Paulo não elimina a nossa torcida pela judoca teresinense. Uma coisa não exclui a outra. Na verdade, cada um é livre para torcer e gostar de quem quiser.

            Espero que a grande conquista de Sarah Menezes, que deixou não só os piauienses felizes e orgulhosos (mas também os maranhenses, os cearenses, os paulistas, os cariocas, além de outros), não continue sendo um desencadeador de ojerizas contra os “sulistas” e nem seja mais um momento de exposição do nosso complexo de inferioridade. Sou piauiense e gosto muito do Piauí, mas luto veementemente contra esse bairrismo pueril e contra essa onda preconceituosa “anti-sulista”. Salve Sarah Menezes, judoca brasileira!

Nenhum comentário:

Postar um comentário