
O CINEMA DE KIÉSLOWSKI
Alfredo Werney
O cinema de Kiéslowski abandona os cansativos diálogos e as narrativas lineares/ convencionais para expressar um mundo poético e pungente, centrado em sensações audiovisuais que são como um “delírio contido”. O silêncio - tomado pelo diretor como uma expressiva forma de comunicação e não como ausência de signos - é um elemento basilar em sua obra. Um silêncio árido que projeta todo masoquismo e simboliza a sublimação e a loucura latente do ser humano. As ambientações sonoras de seus filmes, que em sua maioria foram musicados pelo seu conterrâneo Zibgniev Preisner, são muito particulares: cores se coadunam com timbres, personagens com instrumentos musicais, melodias se mesclam com as pulsões da iluminação e com o simbolismo dos cenários. Estamos diante de sinestesias que constroem uma concepção cênica uniforme e coesa, poucas vezes verificada na sétima arte. Na filmografia do polonês cada enquadramento é uma pintura, cada objeto é como algo espiritualizado, cada som é um sentido, cada movimento de câmara e corte é um abismo de significações, ou mesmo pura epifania. Na obra de Krzystof, o mais profundo e mais poético está no que nos salta imediatamente aos sentidos. Diferente, mas em constante diálogo com o modo de fazer cinema de seu país, a obra de Kiéslowski, principalmente as da fase francesa, se aproxima estetica e ideologicamente com o trabalho de seus conterrâneos Andrzej Wadja e Roman Polanski. Um cinema que procura exprimir, envolto de uma poética da imagem e do som, o ceticismo e a melancolia de um país destruído por regimes políticos extremistas como o nazismo. A obra do diretor da “Trilogia das Cores” não busca transmitir emoções fáceis nem criar personagens heróicos com os quais nos identifiquemos. Antes, sua obra nos faz experimentar sensações particulares, cuja recepção depende do estado psicológico em que cada interlocutor se encontra no momento da projeção. Trata-se de um cinema que não julga os personagens de forma direta nem os transforma em títeres do diretor. Em ritmo lento e através de enquadramentos pouco usuais, Kieslowski faz com que sintamos a vida como uma aventura trágica e poética.
curto e preciso! parabéns pelo conteúdo do blog...
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