segunda-feira, 12 de outubro de 2009

um poema

Entrega a Própria Lança na Rude Batalha em que Morra
Aos que aqui primeiro plantaram uma cruz onde há mortos


Poema de Adriano Lobão



Lembremos hoje os nomes de Francisco
Pereira Pinto e Luís Figueira, padres
acompanhados de índios tabajaras,
seguindo a barco para Jaguaribe.
Lembremos a submissão tabajara
que fiéis guiavam os homens de fé
por lentos dias pela sombra da selva,
onde a semente européia buscava
abrir este caminho pela fé.
Haveremos de revelar a face
iluminada de Deus ao gentio.

De Jaguaribe ao Maranhão, o caminho
da verdade por terra deve ser.
Seguem Pinto e Figueira carregando
uma cruz para além daquela serra.
Carajirus, Caratiús ou Crateús,
eram estes os senhores da terra
pela rústica expedição invadida.
Marca-se a reação crateú com a morte
de Francisco Pinto e três tabajaras.
Restou-lhes o retorno a Pernambuco.

Recaía sobre os Caratiús a vingança
do gentio tabajara em guerra
que uma nação apagada não redime

Aos sobreviventes deste embate
o constante contato com colonos
em encontros cada vez mais hostis.
Estrangeira mão renova-se armada,
não mais os homens da cruz e da fé
mas os senhores suas armas e espadas
buscando estabelecer o direito
de posse de terras, de homens e de almas.

Lembremos aqui todos os que com sangue
marcaram os passos de seu caminho.



[in Entrega a própria lança na rude batalha em que morra, 2005]

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