segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

spinis I



BIG BROTHER BRASIL: OS HERÓIS SEM ÉPICA
(Alfredo Werney)
Sempre procurei me abster de falar mal do Big Brother. Parece que já virou clichê, mania chata de intelectual de esquerda. Em rodas de amigos, nos bares da esquina, nas universidades, nos saraus, o assunto é o mesmo: o famigerado BBB. E quanto mais falamos dele, mais contribuímos para a sua fama. Engraçado, não!? Todo mundo critica a programação e a sua audiência continua significativa. Deve existir muita gente que censura, mas não perde um só capítulo do reality-show. Não tenho nada contra quem o assiste, diga-se. E prometo não estender minhas observações sobre o BBB. Afinal, ao fazer isso, estaria, inevitavelmente, contribuindo ainda mais para o seu crescimento. As palavras fundam a realidade e não apenas dizem algo sobre ela.
O que me impressiona no BBB não são – como muitos criticam – as cenas de sexo explícito, os palavrões, a manipulação ideológica do expectador e todo esse repertório de coisas vazias. Não critico o programa pelo viés moralista, embora não concorde com muita coisa que se apresenta na tela. Deixo essa crítica cheia de lugares comuns para os pedagogos e psicólogos (não todos, é claro) que adoram falar que o BBB é negativo para a formação da criança e do adolescente, que atrapalha o processo de educação, que induz a erotização precoce, etc. Um depósito de chavões...
O que realmente me entristece profundamente é saber que o BBB é a prova cabal do poder que a TV, em especial a Globo, pode exercer em nossa vida. Há algum tempo, para ser famoso era necessário ter um mínimo de talento possível. Ainda que se fosse um artista medíocre, do naipe de uma “Xuxa”, de um “Polegar”, era preciso fazer algo que chamasse a atenção do público. O Big Brother provou que não é necessário mais nada: você pode ser um super-herói sem ter nenhum poder, nenhum talento, nenhuma capacidade de criar. Não precisa mais nada. Coisas cotidianas como beber, comer, transar, brigar, xingar, se tornaram tarefas quase que sobrenaturais.
Jorge Luis Borges, o notável escritor argentino, nos disse que as pessoas sentem a necessidade, a fome de épica. Ele observou também que o cinema de Hollywood foi um dos principais meios de abastecer o nosso mundo de épica. Se o escritor latino ainda estivesse entre nós, veria que nossos heróis agora são outros. Eles não possuem mais a bravura de John Wayne, nem agilidade de Indiana Jones, nem a inteligência de James Stewart, nem a simpatia de Chaplin, nem a força de Schwarzenegger, nem a intensidade poética de “Antonio das Mortes”. Eliminou-se a poesia e com ela o elemento mítico dos nossos heróis. Eles são agora pessoas comuns, antipáticas e bobas, como somos muitas vezes em nossa existência cotidiana.
Talvez tudo isso seja mesmo, como diria um grande amigo meu, sintomas da tal pós-modernidade: perdemos a capacidade de narrar, de fabular, de nos aprofundarmos em algo. Somos seduzidos por tudo que flui rapidamente e não pára em nenhum instante. Tudo que não exige de nós uma contemplação mais apurada. O BBB é a prova de que, realmente, perdemos a capacidade de acreditar no mundo e em nós mesmos...



OBS: Esta seção (notas agudas), inaugurada com o presente texto, será composta de pequenos textos de forte teor crítico sobre os mais variados assuntos. Estamos aberto a contribuições...

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