NEYMÁGICO
(Por Alfredo Werney)
O grande filósofo francês Deleuze nos dizia que a função do cinema moderno é restituir-nos a crença no mundo. “Religar o homem com o que ele vê e ouve”. Da mesma maneira, acredito que podemos dizer que a função dos jogadores brasileiros da atualidade é igual a que o pensador atribuiu ao cinema: re-encantar o mundo futebolístico, salvá-lo da prosa enfadonha e da famigerada “otimização do rendimento”. Neymar o fez.
Há algum tempo temos assistido a um verdadeiro espetáculo artístico de Neymar dos Santos Júnior. Um garoto demasiado chato, mas que, sem dúvidas, é, ao lado de Lionel Messi, o maior jogador da atualidade. Muitas vezes somos levados por esse discurso da não-humilhação, do respeito ao adversário, da comemoração contida. Discurso este que, muita das vezes, visa tão-somente suplantar a beleza plástica do futebol. Uma partida de futebol é um espetáculo e não vejo nada de exageros em se dar um chapéu de maneira gratuita, driblar só por driblar, comemorar um gol de forma explosiva e humilhante. Tudo isso faz parte da poética do jogo, da ginga e do jeito brasileiro de se jogar bola. Chico Buarque disse certa vez, com razão, “Futebol é pra humilhar mesmo”. Fora Dunga e todos os generais gaúchos que querem – como bem dissera o cantor Ivan Lins – “rugbizar” o nosso esporte!
Neymar recuperou a nossa vontade e encanto de ver uma partida de futebol. E o futebol, para a nossa cultura, não é “apenas um jogo”, como afirmara o insosso narrador Galvão Bueno ao sermos desclassificados pela laranja mecânica na última Copa. Desculpa covarde e mentirosa! Perder uma Copa do Mundo, para nós brasileiros, não é a mesma coisa que perder um jogo de baralho numa roda de amigos. Futebol nunca será apenas um “mero jogo” em um país que construiu sua identidade sempre ligada a esse esporte.
O menino da Vila nos fez relembrar, com entusiasmo, os dribles em elipses de Garrincha, as arrancadas fenomenais de Ronaldo, a alegria de jogar do Ronaldinho nos velhos tempos, a elegância de Sócrates e a eficiência de Romário. Tudo bem, ele é abusado, irônico, antipático, arrogante... Mas o que tem tudo isso a ver com jogar bola? Em minha opinião, nada. Isso é assunto para psicólogos, sociólogos e pedagogos. Não é tema para quem compreende o futebol em sua constituição íntima, em sua gramática. “Dentro das quatro linhas”, como nos disse José Miguel Wisnik.
Os gansos, os neymares, os dentinhos, os lucas, as martas nos fazem ainda acreditar que podemos nos debruçar em nossa poltrona para ver um jogo assim como quem contempla uma tela de Renoir, um filme de Kurosawa, uma sinfonia de Beethoven. Algo mágico, para além da razão. Sei que posso parecer hiperbólico. Mas, a meu ver, quem não tem um olhar gratuito, um espírito aberto e não-pragmático para ver uma obra de arte (seja ela música, pintura, cinema, dança, etc) certamente não apreciará também uma partida de futebol. Verá apenas, como muitos dizem por aí, “vinte e dois marmanjos correndo atrás de uma bola”. Neymar nos ensina a ver o jogo como uma dança repleta de improvisos, de magia e de momentos de gratuidade poética. Isso é futebol brasileiro!
Oi Alfredinho,
ResponderExcluirComo sempre sou suspeito, gostei do texto e da articulação futebol, cinema e música, acredito que o livro de José Miguel Winisk - " Veneno Remédio - o Futebol e o Brasil" - tenha servido de influência para sua criação textual. Nesse livro Winisk faz uma articulação forte com a sociologia, a psicanálise e a critica estética. Fundamentalmente o autor foca que o bom "jogador de bola" é tão singular e de grande sagacidade e inteligência quanto aos bons escritores e poetas brasileiro. Enfim, parafraseando você o "Neymar é mágico".
Jonas
sim jonas. acertou na mosca. sempre em minhas leituras futebolísticas há uma forte influência de josé miguel wisnik e de Nelson rodrigues; um abraço
ResponderExcluirobrigado pela audiência
Vc escreve bem, mas parce q nao assiste muito futebol. tem tanta getne q ja vem jogando muito muito ao lado do messi (que é intocavel), mas nao me venha dizer q ele é o "segundo" melhor, parece q vc nunca assistiu o arshavin jogando, o drogbba, tevez, e outros...vc confunde habilidade com "jogar"... o robinho é mto habilidoso, mas nao rende nada a seu time, jogar nao é driblar, nem dar lençol...iss é o bonito do jogo, mas tem q ver o q craque rende ao clube..o neymar e o melhor pra quem so ve ele jogando, vejam outros jogando q vc vai me entender, parabens ao blogg>
ResponderExcluirCristian Suzuki
aceito sua crítica... e quero dizer que assisto futebol quase todos os dias. Se vc quer me convencer que Neymar é só firula, que não rende nada ao time, é difícil aceitar. só vc pensa assim... o neymar sempre fez muitos golse sempre foi eficiente. Minha amiga se habilidade não tem nada há ver com jogar, me perdoe. Se eu aceitar isso, vou aceitar que "agarrar bem num tem nada há ver com ser um bom goleiro''. isso é um absurdo.
ResponderExcluirobrigado pela audiência
um abraço
Alfredo