domingo, 31 de julho de 2011

Cartola - O sol nascerá


(O Sol nascerá - Cartola e Elton Menezes)



Cartola: a visceralidade da canção

(Alfredo Werney)

Cartola é um desses artistas que compõe com muita intensidade e paixão. Suas canções possuem uma forte tendência a uma “estética da monumentalidade” (para usar uma expressão de Santuza Cambraia Naves). Esta estética se caracteriza pelo excesso e pela gravidade.  As letras do compositor carioca, em sua maioria, são simples, no que se refere especificamente aos elementos literários. Mas impressionam pelo forte laço que formam com as melodias- estas sempre muito expressivas e repletas de saltos intervalares de longa distância, o que gera um certo tom de grandeza em seu discurso musical.

Sem dúvidas, Cartola é uma das matrizes da nossa música popular. Não há como se pensar no samba, por exemplo, sem mencionar o nome de Angenor de Oliveira (nome real de Cartola). Percorrendo um caminho diferente das canções mais suaves e mais racionais, o fundador da “Estação Primeira de Mangueira” compõe com o intuito de derramar as suas emoções e mostrar de maneira intensa e apaixonada uma mensagem poético-musical. E o faz sem cair no confessionalismo piegas – fenômeno muito comum nas canções populares de épocas passadas e em muitas da atualidade.

Ouvir Cartola é deixar-se levar pela força comunicativa da canção. É esquecer, ainda que momentaneamente, os aspectos estritamente literários e musicais da arte do cancionista e inebriar-se com a visceralidade das melodias, com a fluidez dos arranjos (muitos deles realizados com a presença marcante do violão de Dino 7 Cordas) e com a força poética das letras – elementos que são indissociáveis no estilo composicional de Angenor.

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