segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

SÓCRATES


APOLOGIA A SÓCRATES: O BRASILEIRO

(Alfredo Werney)

          Elegância, equilíbrio e uma visão de campo camaleônica. Se estas palavras não definem, mas dizem muito sobre o futebol de Sócrates Brasileiro. Ele foi, indubitavelmente, um dos jogadores mais importantes do futebol mundial. Poucos, a exemplo de Zidane, Riquelme e Ganso – embora, talvez, com menos brilho do que o Doutor – jogaram com tamanha pompa e equilíbrio dentro das quatro linhas. Magro e de alta estatura, sua característica principal não era a velocidade, mas sim o total domínio dos setores do campo e dos fundamentos básicos da "gramática futebolística". Cobrava falta com mestria, defendia muito bem, dava passes milimétricos, além de uma invejável habilidade com o uso do calcanhar.

          A expressão do Doutor, porém, não se reduziu ao limite das quatro linhas do gramado. Foi um dos principais esportistas na luta contra a Ditadura. Inteligente e politizado, desenvolveu um regime democrático no Sport Club Corinthians, juntamente com outros jogadores, que ficou marcado na história do futebol brasileiro como uma  respeitada bandeira de luta contra o autoritarismo político que se firmara em nossa nação.

          Sócrates sempre jogou de uma maneira que parecia flutuar em campo, pois jogava com uma naturalidade e uma gratuidade raramente vistas. Possuía um impressionante controle sobre o ritmo do jogo: se era para acelerar ou ralentar a partida, tudo partia de seus astuciosos pés. Efetivamente, poucos meios-de-campo tiveram sua habilidade e visão de jogo. Hoje, por exemplo, é praticamente impossível se encontrar um jogador de sua posição com as mesmas características, uma vez que o futebol se tornou mais rápido e mais defensivo. Além do que, em geral, a beleza plástica e a inteligência do jogo foram esmagadas por um esquema tático rígido que privilegia a força física e o resultado.

          Sócrates partiu para outros campos, mas nos deixou um legado futebolístico de grande valor. Sua capacidade de criar em campo, seus toques curtos e precisos, seus dribles medidos e oportunos, seu calcanhar inteligente, sua capacidade, ao mesmo tempo, de “contenção” e “ataque” – ainda que raro – podem ainda ser visto em alguns futebolistas contemporâneos (embora de maneira menos genial, como se vê em um Ganso).

          Há quem fale apenas em seu problema de alcoolismo, como se isso fosse, de fato, algo raro em nosso país.  O que importa para quem ama o esporte e o país, realmente, é a contribuição de Sócrates na construção do imaginário do futebol brasileiro. De grande impacto também foi a sua militância política, pois o atleta procurou construir uma visão e um sistema de futebol mais  humano  e mais democrático, no qual todos envolvidos no processo pudessem afirmar sua voz e contribuir para a realização de mudanças. Sabemos, entretanto, que seu projeto não foi muito levado a sério por muitos jogadores e clubes da época. Sabemos também que o que predomina na atualidade, ao contrário do que propunha o doutor, é uma política de esportes suja e inescrupulosa.

        Deixando a marcação de lado, como o fazem inúmeros jornalistas espetaculosos, e procurando não entrar num campo pessoal, torcemos para que Sócrates seja lembrado tão-somente pelo o que fez dentro dos campos e pelo que fez politicamente pelo sistema do futebol como um todo. Isso, sinceramente, é bem mais interessante para aqueles compreendem a linguagem do futebol e  que vivem de forma intensa essa engenhosa e  mágica "dança dos deuses".

5 comentários:

  1. João de Deus "Netto"8 de dezembro de 2011 às 07:06

    Olá, Alfredo, sou João de Deus Netto - designer gráfico, caricaturista e blogueiro piauiense de Campo Maior, radicado em Curitiba(PR).
    Veja o tratamento dado ao seu excelente texto "DEIXEM O CHICO BUARQUE EM PAZ!", no blog PICINEZ.
    Saúde, paz e felicidades, Werney!

    http://picinezblog.blogspot.com/

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  2. Me desculpe a opnião,mas eu sempre achei que futeból devia ser coisa só da massa inculta.

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  3. um acrécimo,mesmo não gostando do tema e do esporte devo confessar ,com a beleza do seu texto vc quase me convenceu que futebol é arte.

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  4. obrigado. eu acho que futebol no brasil não pode ser entendido apenas como entretenimento da massa inculta. o futebol parece expor nossas contradições, nossas peculiaridades culturais, nossa psicologia. eu realmente vejo inteligência no futebol. um abraço Ademar

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  5. O Brasil moderno está identificado com o futebol,sem distinção de classe social ou cultural,me parece que no passado não era assim,eu li uma crônica do lima barreto onde ele dizia que o intelectual não podia perder tempo com futilidades,depois de saber que Coelho neto frequentava estádios,anos depois villa escreve um texto dizendo que futebol era uma arte inferior.eu penso que se os dois vivessem hoje eles teriam se contagiado.eu não gosto talvez pelo fato de ser homosexual,sei lá.este villa que eu escrevi com tanta intimidade é o villa lobos.

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