quarta-feira, 28 de março de 2012

MORRE MILLÔR FERNANDES





ADEUS MILLÔR FERNANDES!


Alfredo Werney


            Millôr Fernandes nos ensinou muito através de seu humor conciso, cortante como uma faca só lâmina. Com ele aprendemos a rir de nossas próprias desgraças. Artista e profundo conhecedor de nossa cultura, disse exatamente o que nós todos queríamos dizer sobre o Brasil e sobre as coisas. Sua expressão, ao mesmo tempo exata e irônica, nos fez entendermos mais de nós mesmos: os brasileiros. Tradutor, poeta, desenhista, humorista, teatrólogo, roteirista, reuniu conhecimentos que daria para distribuir para dezenas de artistas diferentes.

            Hoje o Brasil amanheceu sem graça, sem magia e poesia. Com um sorriso desdentado! Millôr Fernandes era um antídoto contra esse humor atual  -- demasiado burro e grosseiro. Sua arte não se esgotava no puro riso, pois o artista carioca sempre inseria em seu humor fortes doses de crítica e de inteligência. E diga-se: sempre imbuído de uma visão de mundo muito rica e pessoal. Como tradutor, brindou-nos com Shakespeare, Sófocles, Molière e Brecht. Como escritor, alargou as possibilidades estéticas de nossa literatura.

            M. Fernandes odiava as frases feitas, mas eu (pobre mortal, "um macaco que não deu certo") não tenho como fugir delas: a inteligência brasileira perdeu um de seus pensadores mais lúcidos. Muito mais que um criador de piadas e de textos irônicos, como muitos ainda pensam, Millor foi um intérprete de nossa cultura e um escritor possuidor de um estilo raro de se encontrar em nossas letras.

            Triste é o fato de lembrarmos-nos desse grande mestre apenas no dia em que ele se desvencilhou do mundo. Mas, como dizia o próprio artista: “A ocasião em que a inteligência do homem mais cresce, sua bondade alcança limites insuspeitados e seu caráter uma pureza inimaginável é nas primeiras 24 horas depois da sua morte”. Adeus Millôr!

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