CINE HOLLIÚDY: UMA PIADA*
Alfredo
Werney
“No mínimo, uma experiência
válida!”, assim ouvi alguém exclamar ao sair da sala de cinema do “Teresina
Shopping”, após a exibição da comédia cearense “Cine Holliúdy” (2012), dirigida
pelo cineasta Halder Gomes. De fato, em um espaço carente de produções cinematográficas
como o Nordeste (E porque não dizer o Brasil?), não deixa de ser uma
experiência valiosa a construção de uma espécie de “Cinema Paradiso do Sertão”.
Digo “Cinema Paradiso” (Nuovo
Cinema Paradiso, 1988), porque o clima de nostalgia, o tema abordado, o
enredo, algumas personagens burlescas do filme, faz-nos realmente lembrar a
película do diretor italiano Giuseppe Tornatore.
Francisgleydsson
(Edmilson Filho) é um sertanejo apaixonado por cinema e dedica sua vida a essa
arte, embora tenha consciência de que o resultado financeiro de sua empreitada não
é satisfatório. Nessa aventura cheia de nostalgia e de certo “romantismo”, está
presente também sua esposa, a Graciosa (Miriam Freeland) e seu filho “Francin”.
A família chega à pequena cidade de Pacatuba-CE, na década de 70, para erguer o
fabuloso “Cine Holliúdy” e lutar para conseguir sucesso, mesmo sabendo do
surgimento da TV – uma grande ameaça para a sétima arte. O cinema de
Francisgleydsson e de sua família se torna para a cidade um verdadeiro espaço
de catarse, de diversão, de socialização dos problemas íntimos e dos problemas
políticos daquela comunidade. Por meio dele conhecemos os diversos “tipos” que
a cidade abriga: o político corrupto, a mulher orgulhosa, o bêbado divertido, o gay agitado, o
valentão e o cabra macho, o cego, o doido, dentre outras figuras excêntricas.
O
filme de Halder Gomes, que surgiu a partir do curta-metragem “Cine Holiúdy – o
Astista contra o Caba do Mal” (2004), procura realizar uma instigante reflexão
sobre o poder de comunicação e de catarse que o cinema possui. A obra retoma a
época em que o cinema era uma arte repleta de nostalgia e que abrigava um
número grande de público – tempo anterior ao aparecimento da televisão. Vale
lembrar, que, nesses tempos, as pessoas participavam da sétima arte de uma
forma mais efetiva – tarefa esta certamente desempenhada pelas telenovelas atuais. Nas telas as pessoas depositavam seus sonhos,
realizavam por meio das cenas de violência suas catarses diárias,
apaixonavam-se pelas personagens e deixavam cada fotograma do filme impregnar
na sua existência cotidiana. Porém, não há como negar: o filme é cheio de
imprecisões e de fragilidades. A montagem é confusa (perde o fio narrativo e
não se sustenta nos momentos de clímax), os atores são exageradamente
caricaturais e dramáticos (as crianças mais parecem ler as piadas do que atuar
na cena), a música do filme é apenas um retalho de canções sem nenhuma unidade
estilística e o roteiro está povoado de gags
desnecessárias e de chavões.
A
impressão que tive ao ver a película é que se trata de um cinema feito para
agradar, a qualquer custo, o público nordestino (em especial o cearense, evidentemente).
Público este que, na maioria das vezes, não se sente representado pelas
telenovelas e pelo cinema nacional. Reclamam da imagem que a TV cria do povo do
Nordeste. “Cine Holliúdy” não consegue se desvencilhar das amarras do estilo
“Globo Filmes” (refiro-me às comédias “Lisbela e o Prisioneiro” e “Auto da
Compadecida”), pois é uma obra que apela para o pitoresco, que cria inúmeros
lugares comuns e que troca a plasticidade visual pela simples e “requentada”
anedota. Lembro-me de uma cena em que a personagem Graciosa vai consultar a
médica e descobre que, na realidade, não possui nenhuma doença. É uma cena
gratuita, sem nenhuma funcionalidade e totalmente desconectada do fio narrativo.
Estou certo de que esta sequencia foi feita apenas para produzir o riso fácil e
criar mais uma piada. Isto é, na visão do diretor é melhor perder o cinema do
que perder a piada.
Ainda
assim, há momentos de certa beleza nostálgica, como a cena final em que, para esconder do público o fato de o projetor não estar mais funcionando, Francisgleydsson
continua a narrativa do filme na sala de projeção por meio de sua fala e de seus gestos. Ele cria através desse momento de improviso uma espécie de teatro mambembe - o que nos faz relembrar a trajetória do próprio cinema, que, em seus primórdios, foi uma espécie de teatro filmado. Há também personagens que agradam
pela atuação despojada, como o cego ignorante e desbocado representado pelo humorista
cearense Falcão. Porém, podemos asseverar: não se trata de um trabalho representativo, de uma experiência estética
importante para o cinema brasileiro. É puro entretenimento! E até mesmo como
entretenimento deixa a desejar, em virtude das quebras de ritmos da montagem, da
ineficiência da trilha musical (que apenas serve como um pano de fundo para as
imagens, isto porque não desempenha nenhuma função narrativa), do excesso de
expressões das personagens e das falas que, muitas das vezes, são meras piadas (algumas delas já bem conhecidas do público que frequenta as redes sociais).
Mas,
se a intenção do expectador é apenas levar a família para comer pipoca e se
deleitar com a dicção do “cearensês” (que, de fato, é um “idioma” muito
divertido e curioso), vale a pena se deslocar até as salas de cinema. A obra é
bastante engraçada e teve um público considerável nos cinemas do Ceará. Entretanto,
se quisermos algo além do riso fácil e da comicidade fabricada sem nenhuma
beleza plástica, não vale indicar “Cine Holliúdy”. Deixe de “botar-boneco” e
procure outro filme, macho!
*Depois de um longo tempo fora do ar, devido a elaboração de minha dissertação de mestrado, retomo o blog. Sejam bem vindo caros amigos leitores
“IX CONCURSO PLÍNIO MOTTA DE POESIAS”
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Permita-me discordar de sua crítica.
ResponderExcluirSe a montagem fosse confusa a ponto de perder o que você chama de “fio narrativo” e “não se sustentar nos momentos de clímax”, você não teria entendido a cena que elogiou (Francisgleidsson explicando o filme), que, na verdade, é ÚNICO clímax do filme.
O fato dos atores serem exageradamente caricaturais para você, que não mora no Ceará, não é propriamente um defeito.
Só há um personagem dramático no filme – Graciosa –, ao contrário do que diz.
Ao contrário do que diz, as canções do filme tem unidade estilística: todas são bregas e tocavam no Ceará nos anos 70.
Não é uma obra que apela para o pitoresco – na verdade, a realidade do Ceará nos 70 é, REALMENTE, pitoresca. Aquela é a verdade do tempo e do espaço. Pergunte a quem viveu.
Todas as piadas são novas.
A cena em que a personagem Graciosa vai consultar a médica e descobre que, na realidade, não possui nenhuma doença, foi necessária para que, ao final do filme, se explicasse que a esposa do protagonista estava tendo, ao invés de uma enfermidade, uma previsão do sucesso do cinema Francisplex. Se essa cena não existisse não faria sentido a elipse de tempo em que se tornaram reais as visões de Maria da Graça. Taí porque não é “uma cena gratuita, sem nenhuma funcionalidade e totalmente desconectada do fio narrativo”. Quem “perdeu o cinema” foi você.
Ainda bem que você acha que “não se trata de um trabalho representativo, de uma experiência estética importante para o cinema brasileiro”; seria esquisito que Cacá Diegues e Fernando Meireles, que reputam o filme perfeito tecnicamente e genial, concordassem com você.
Que pena que o filme “é puro entretenimento”. Da próxima vamos torcer para fazerem um filme que não diverte, ok?
Agradeço a sua atenção de ler o texto, mas só respondo no meu blog as pessoas que se identificam. obrigado...
ExcluirNao redponde mas ja respondeu...
ExcluirE por que você não se identifica? qual é o problema? tem medo de que?
ExcluirNão fui eu que repliquei ("não responde mas já respondeu"). Meu nome é Haroldo Guimarães. Abraço.
ExcluirQuerido, assista ao filme mais umas 3 vezes, pode ser que vc entenda alguma coisa...pq com essa sua crítica, me parece que vc não viu ao filme...
ResponderExcluirBem na sua pleura, seu imbecil. Vá estudar pra ve se faz algo melhor que falar merda.
ResponderExcluirO filme é perfeito, muito bem articulado. O "problema" p/ o crítico supra é que se trata de uma obra genuinamente nordestina e, pelo que se observa, o crítico não assimila a possibilidade de o nordeste, apesar de toda sua cultura, concluir um projeto de cinema agradável sob os mais variados aspectos de vistas. Macho, o filme, na minha opinião, é xibata! Meus ói ficaram sem nem piscar. E mais: lá se foi a prega rainha! Macho véi, o filme é show!
ResponderExcluirAlfredo, sinceramente, vc foi muito infeliz nessa sua crítica. Não vou me alongar, vou apenas dizer que vc vai se arrepender de ter escrito essas asneiras quando o filme for aclamado pelo público... mas pera aí, ele já é aclamado, e é isso que interessa!
ResponderExcluirVocê assistiu o filme? Alfredo, vá novamente ao cinema, veja o filme e preste atenção!
ResponderExcluirNão assisti o filme não amigo. Eu prefiro fazer a crítica primeiro depois ver o filme. Fica mais interessante, não é?
ExcluirTambém acho melhor comer o almoço antes de cozinhá-lo. Interessante, não?
Meu caro: no dia em que o cinema deixar de ser puro entretenimento, o cinema acaba. O cinema e a catarse. Não sou cearense. Fui ver e gostei. Ri até à catarse. Acredito na sua sinceridade. Respeito a sua opinião. Mas, como me ensinou o meu pai, "crítica construtiva sempre. Se for negativa, mostra um caminho melhor. Se um dia alguém te criticar, aceita a crítica. Não de quem saiba mais mas de quem faça melhor." Presumo que você seja um jovem citadino, que não viveu o lento desenvolvimento do interior. Mesmo sendo de Teresina. Como músico, que também sou, sei que gostaria de uma trilha sonora tipo "The good, the bad and the uggly", mas não podia ser. A música de raiz nordestina, tipo pé de serra, não obedece aos requintes eruditos. As piadas não são originais mas são bem encaixadas. Pense em Cine Holliúdy como um documento ficcional cearense. Pura diversão. Puro cinema. Abraço, António Leitão
ResponderExcluirolá amigo. obrigado pela visita. Eu vivi sim...nasci no interior do Piauí e inclusive meu bisavô é cearense, de uma cidade bem pequena. Conheço bem esse clima do interior. Não acho que a trilha tinha que ser aos moldes de Morricone...mas a boa trilha tem unidade, tem funcionalidade. é o que a música de Cine Hollyúde não tem. hpa apenas uma junção de canções que não funcionam, não acrescentam nada..só repetem a obviedade das imagens; sobre a questão de quem criticar tem que fazer melhor discordo totalmente. a função do crítico não é mostrar como se faz um filme, mas apontar determinados aspectos da construção de sentido do que foi feito. Se fosse assim, teríamos que exigir ao Ismail Xavier que ele fizesse filmes melhores do que os de Glauber Rocha, já que ele criticou e analisou o cineasta baiano. É um absurdo. De qualquer forma, agradeço a atenção e respeito suas ideias. abraço....
ExcluirSinto cheiro de despeito, inveja, preconceito... sua fraca, falha e distorcida visao do filme deve vir do fato de voce nao ser nordestino e talvez nao esperar que daqui "dessas bandas" possa sair algo tao brilhante. Um conselho, veja de novo, leve os oculos, o dicionario da cultura local e uma boa pipoca, mas, deixe o preconceito em casa.
ResponderExcluirPr. Renato Campos
Muito pobre seu comentário. Se você ler o blog verá que sou de Teresina (Teresina fica no Nordeste, sabia?). E quando escrevo sobre um filme,tanto faz o cineasta ter nascido no Peru, na Argentina, em Timom, em Caucaia, na Alemanha ou no Chile. Eu analiso filmes....sem utilizar critérios geográficos, mas sim estéticos. E o filme é ruim mesmo, sob todos os aspectos. não precisar ver várias vezes não. Há ali apenas um momento de entretenimento. A montagem é mal feita, a música não funciona, os atores são demasiado caricaturais. Agora se você tem uma crítica melhor do que a que eu fiz, me manda que eu publico nesse blog. O que não dar é pra ficar me tratando com ojeriza, sem argumentar consistentemente.abraço
ExcluirOutra coisa: não tenho inveja de quem faz filmes não, nem cineasta eu sou. Fico até feliz pelas produções que vêm surgindo na região nordeste. Inclusive o Ceará é um dos estados que mais abriga grandes cineastas hoje, como Karin Ainouz e Rosemberg Cariri, Petrus Cariry. Quando faço a crítica a um filme, ela não deve ser entendida como uma crítica as pessoas que fizeram o filme. A obra de arte é aberta....
ExcluirParabéns pela crítica Alfredo. Concordo plenamente com suas palavras. Sou nordestina e amo essa região, mas nem por isso vou ser defensora de um filme que deixa a desejar em vários aspectos.
ResponderExcluirLuciana Soares
obrigado querida...
ExcluirPessoal sou de Carolina do Maranhão e gostaria de deixar meu blog para vocês darem uma olhada, principalmente Halder Gomes, meu nome é Tiago Mendonça e trabalho na Secretaria de Saúde do município, meu blog é: transcendendo-me.blogspot.com, grato, um abraço a todos.
ResponderExcluirSe o Brasil olhasse para o Nordeste veria um valor absoluto incalculável.
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