CALA
A BOCA, SEU LOBO BOBO!
Alfredo
Werney
Lobão é uma espécie de Diogo
Mainardi requentado. E, sem dúvidas, faz um enorme mal à saúde de quem ainda
cultiva um pouco de intelligentsia!
Quando ele fala mal dos outros, na verdade, está querendo chamar a atenção para
ele mesmo. O vazio do seu discurso é patente, por isso mesmo ele é frequentemente
notado menos pelas coisas “que diz” (até mesmo porque não tem muito a dizer) do
que pela forma estúpida e grosseira “como diz”. É uma estratégia de discurso
das mais tacanhas possíveis, um mecanismo de defesa utilizado por alguém que
não é capaz de se sustentar em um debate organizado, sério e profundo.
O roqueiro carioca tem como prato
predileto falar mal de Chico Buarque, de João Gilberto, de Caetano Veloso, de
Gilberto Gil, de Tom Jobim (sim, até mesmo do mestre Jobim). E seu discurso,
diga-se de passagem, é um discurso sem fundamentação e cheio de ressentimento.
Na realidade, seu papel tem sido apenas o de macaquear a fala dos indivíduos
dos quais virou um bajulador de carteirinha, como os articulistas de direita da
“Veja” (revista da qual o próprio músico faz parte) e de Olavo de Carvalho,
que, no fundo, inteligente que é, deve achar o Lobão um autêntico imbecil. E o
que de fato o Lobão diz? Nada que possa gerar uma reflexão séria, um debate
nutritivo, pois ele apenas dispara uma série de frases de efeito, sem nenhum
resquício de sabedoria. Basta assistir seus vídeos na internet para confirmar o
que estou dizendo. Isso se você não tiver nada para fazer (como eu), porque,
caso tenha, é mais sensato ler poesia, ouvir música ou ver filmes.
Não precisa ser um grande entendedor da
alma humana para ver que essa vontade doentia de ficar sempre em pauta, na
mídia, está fazendo o Lobão entrar em transe (ou continuar em seu eterno
transe?). Como um indivíduo pode negar toda uma tradição da música brasileira
de anos e anos se utilizando de meia dúzia de palavrões e de expressões vazias?
Como um indivíduo pode desqualificar musicalmente um conjunto de artistas do
mais alto calibre por uma mera questão de política partidária? Seria mais justo
se ele escrevesse algo de valor analítico ou histórico sobre o tema, ao invés
de ficar metralhando diariamente os compositores que transformaram a canção
popular em uma forma de “riflessione brasiliana”, como nos disse José Miguel
Wisnik.
No que se refere à importância
musical do cantor para o cenário musical brasileiro, não vale a pena gastar
muitas palavras. Sua obra resume-se a meia dúzia de canções que ainda dar para
se ouvir, isso sem grandes pretensões artísticas. Os músicos bossa-novistas
que ele zomba são os mesmos que “desdramatizaram” a MPB e deram a esse gênero
uma sofisticação harmônica, literária e interpretativa. E o quer dizer de sua crítica aos tropicalistas?
Não precisa ser um estudioso da música popular
para perceber que esses artistas reviraram nossa MPB pelo avesso,
dando-lhe riqueza literária, reinventando gêneros tradicionais como o samba e o
baião e abrindo caminhos para novas experiências, como o rock nacional e o
movimento mangue-beat. E Lobão? Perdoem-me a intensidade do comentário, mas se
juntarmos tudo o que ele produziu musicalmente não vale um acorde de João
Gilberto, um verso de Caetano ou de Gil, muito menos três notas de uma melodia
jobiniana.
O problema não reside no fato de
Lobão se mostrar um conservador. O José Ramos Tinhorão, por exemplo, é um
pesquisador conhecido pelo seu exacerbado conservadorismo. Ele também critica
duramente essa turma da MPB que possui uma linguagem mais moderna. A diferença
é que ele estudou (e ainda estuda) o assunto de maneira séria, dedicando boa
parte de sua existência a essa complexa tarefa. Além disso, escreveu dezenas e
dezenas de livros que merecem ser lidos. Embora eu discorde de muitas de suas
leituras, não há como negar a importância das pesquisas de Tinhorão para a
historiografia da nossa música popular.
“Agora falando sério”, como diria
Chico Buarque, não dá mais para tolerar esse roqueiro “meia-boca” querendo
alçar a condição de um pensador da cultura brasileira. Pré-conceito contra o
rock brasileiro? Não, pois existem diversos roqueiros que realizaram uma
leitura contundente de nossa cultura, como Arnaldo Antunes, Humberto Gessinger,
Raul Seixas e outros. Esses realmente são artistas que, além de terem muito a
nos dizer, possuem uma impressionante consciência do processo de criação
poético-musical.
“Chove lá fora”, e essa chuva
antipática não passa. “Tá tão vazio”... Me dá vontade de saber até quando
teremos que ouvir o tilintar enfadonho desses pingos de chuva. “Tô cansado de
tanta babaquice, desta eterna falta do que falar”. Cala a boca seu lobo bobo!
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