quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O polêmico Lobão


CALA A BOCA, SEU LOBO BOBO!

Alfredo Werney


       Lobão é uma espécie de Diogo Mainardi requentado. E, sem dúvidas, faz um enorme mal à saúde de quem ainda cultiva um pouco de intelligentsia! Quando ele fala mal dos outros, na verdade, está querendo chamar a atenção para ele mesmo. O vazio do seu discurso é patente, por isso mesmo ele é frequentemente notado menos pelas coisas “que diz” (até mesmo porque não tem muito a dizer) do que pela forma estúpida e grosseira “como diz”. É uma estratégia de discurso das mais tacanhas possíveis, um mecanismo de defesa utilizado por alguém que não é capaz de se sustentar em um debate organizado, sério e profundo.

         O roqueiro carioca tem como prato predileto falar mal de Chico Buarque, de João Gilberto, de Caetano Veloso, de Gilberto Gil, de Tom Jobim (sim, até mesmo do mestre Jobim). E seu discurso, diga-se de passagem, é um discurso sem fundamentação e cheio de ressentimento. Na realidade, seu papel tem sido apenas o de macaquear a fala dos indivíduos dos quais virou um bajulador de carteirinha, como os articulistas de direita da “Veja” (revista da qual o próprio músico faz parte) e de Olavo de Carvalho, que, no fundo, inteligente que é, deve achar o Lobão um autêntico imbecil. E o que de fato o Lobão diz? Nada que possa gerar uma reflexão séria, um debate nutritivo, pois ele apenas dispara uma série de frases de efeito, sem nenhum resquício de sabedoria. Basta assistir seus vídeos na internet para confirmar o que estou dizendo. Isso se você não tiver nada para fazer (como eu), porque, caso tenha, é mais sensato ler poesia, ouvir música ou ver filmes.

            Não precisa ser um grande entendedor da alma humana para ver que essa vontade doentia de ficar sempre em pauta, na mídia, está fazendo o Lobão entrar em transe (ou continuar em seu eterno transe?). Como um indivíduo pode negar toda uma tradição da música brasileira de anos e anos se utilizando de meia dúzia de palavrões e de expressões vazias? Como um indivíduo pode desqualificar musicalmente um conjunto de artistas do mais alto calibre por uma mera questão de política partidária? Seria mais justo se ele escrevesse algo de valor analítico ou histórico sobre o tema, ao invés de ficar metralhando diariamente os compositores que transformaram a canção popular em uma forma de “riflessione brasiliana”, como nos disse José Miguel Wisnik.

            No que se refere à importância musical do cantor para o cenário musical brasileiro, não vale a pena gastar muitas palavras. Sua obra resume-se a meia dúzia de canções que ainda dar para se ouvir, isso sem grandes pretensões artísticas. Os músicos bossa-novistas que ele zomba são os mesmos que “desdramatizaram” a MPB e deram a esse gênero uma sofisticação harmônica, literária e interpretativa.  E o quer dizer de sua crítica aos tropicalistas?  Não precisa ser um estudioso da música popular para perceber que esses artistas reviraram nossa MPB pelo avesso, dando-lhe riqueza literária, reinventando gêneros tradicionais como o samba e o baião e abrindo caminhos para novas experiências, como o rock nacional e o movimento mangue-beat. E Lobão? Perdoem-me a intensidade do comentário, mas se juntarmos tudo o que ele produziu musicalmente não vale um acorde de João Gilberto, um verso de Caetano ou de Gil, muito menos três notas de uma melodia jobiniana.

           O problema não reside no fato de Lobão se mostrar um conservador. O José Ramos Tinhorão, por exemplo, é um pesquisador conhecido pelo seu exacerbado conservadorismo. Ele também critica duramente essa turma da MPB que possui uma linguagem mais moderna. A diferença é que ele estudou (e ainda estuda) o assunto de maneira séria, dedicando boa parte de sua existência a essa complexa tarefa. Além disso, escreveu dezenas e dezenas de livros que merecem ser lidos. Embora eu discorde de muitas de suas leituras, não há como negar a importância das pesquisas de Tinhorão para a historiografia da nossa música popular.

            “Agora falando sério”, como diria Chico Buarque, não dá mais para tolerar esse roqueiro “meia-boca” querendo alçar a condição de um pensador da cultura brasileira. Pré-conceito contra o rock brasileiro? Não, pois existem diversos roqueiros que realizaram uma leitura contundente de nossa cultura, como Arnaldo Antunes, Humberto Gessinger, Raul Seixas e outros. Esses realmente são artistas que, além de terem muito a nos dizer, possuem uma impressionante consciência do processo de criação poético-musical.


             “Chove lá fora”, e essa chuva antipática não passa. “Tá tão vazio”... Me dá vontade de saber até quando teremos que ouvir o tilintar enfadonho desses pingos de chuva. “Tô cansado de tanta babaquice, desta eterna falta do que falar”. Cala a boca seu lobo bobo!

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