Uma canção de Bob Dylan
Uma das mais peculiares e interessantes características de Blowin’ in the wind, presente no segundo LP de Bob Dylan, e seu primeiro sucesso, provém do fato de não dar resposta alguma, apenas enumerar questionamentos, tornando-a de certa forma atemporal e não menos instigante. Encaixa-se facilmente em qualquer discurso anti-totalitário, sob qualquer ideologia que a dotasse . Entretanto, provindo de um artista fortemente influenciado pelo ícone Woody Guthie, que ostentava em seus violão os dizeres “This machine kills facists” , era inevitável que a canção de Bob Dylan expressasse os anseios esquerdistas dos manifestantes folks; ou parecesse expressar, ou fosse assim interpretada (o que, na prática, dá no mesmo), ganhando as canções de Dylan o rótulo de “música de protesto”. O envolvimento com a engajada musa Joan Baez só veio a intensificar essa identificação do público de Joan, tipicamente de esquerda, com a poesia de Dylan. Seria o típico retrato idealizado do jovem artista que, engajado e politicamente consciente, encontra seu público fiel. Juntos, viveriam a esperança de “mudar o mundo”. E as posteriores canções de Dylan, em seus dois álbuns seguintes, vieram a estreitar ainda mais esse laço, sobretudoThe times they are a-changin’.
A controversa reviravolta de Dylan, em 1966, tendo como marco as vaias proferidas no festival de Newport, assumem o caráter de “sonho perdido” para uma legião de fás e ativistas que, indignados, viam seu mais promissor porta-voz render-se ao rock’n’roll, o que para eles significaria render-se ao capitalismo, o monstro contra o qual vociferavam e que responsabilizavam pelas desigualdades e injustiças do mundo, sobretudo o mundo norte-americano. Em 1967, ao entrar no palco para mais um dos tumultuados shows dessa fase, alguém na platéia acusa Bob Dylan de “Judas”. O artista limitou-se a responder “Eu não acredito em você”, e seguiu adiante com sua música.
Blowin' In The Wind
[Bob Dylan]
How many roads must a man walk down
Before you call him a man?
Yes, 'n' how many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, 'n' how many times must the cannon balls fly
Before they're forever banned?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.
How many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, 'n' how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, 'n' how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.
How many years can a mountain exist
Before it's washed to the sea?
Yes, 'n' how many years can some people exist
Before they're allowed to be free?
Yes, 'n' how many times can a man turn his head,
Pretending he just doesn't see?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.
Adriano Lobão é poeta e professor. Escritor e editor da revista eletrônica DesEnreDos (www.desenredos.com.br).
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