Alfredo Werney
Prefiro a poesia que é poesia
Prefiro a poesia que faz entrega
de pizza em domicílio
prefiro a poesia que pega fila em banco
e reclama da vida fodida
prefiro a poesia que a gente entende
sem fazer força
prefiro a poesia não-poesia
prefiro a poesia viva, ferida,
do deixa sangrar, que manda à merda
os literatos de versos insossos, inodoros,
insípidos, incolores, inócuos e inconseqüentes
sou mais eu e minha Kombi
Recentemente, tive a oportunidade de ler o poema acima numa bonita revista do Piauí. A autoria dessa pérola da literatura é do senhor Nicolas Behr, poeta marginal que mora em Brasília. Confesso que não imaginava que a poesia brasileira poderia chegar a um nível tão deplorável. Não é porque a linguagem seja coloquial, nem porque o autor ataca a poesia dita acadêmica, muito menos pelo fato de o texto não fazer parte dos cânones literários tradicionais. Há muita gente por aí que fazem bons poemas com as mesmas ferramentas citadas.
O que me impressiona é o mau gosto, a falta de consciência rítmica e musical, a pobreza das imagens, a falta de poesia mesmo. Mesmo quando um grande escritor quer fazer poemas aparentemente “apoéticos”, como Manuel Bandeira, ele se utiliza de um conjunto de técnicas e de recursos que, no fundo, geram uma construção inventiva e poética da linguagem. É apenas um disfarce de um mestre que já experimentou diversas maneiras de escrever um texto literário. Os recursos literários, ainda que aparentemente prosaicos, nos causam um “estranhamento”, para usar um termo dos formalistas russos. Se lermos o verso: Prefiro a poesia que faz entrega/ de pizza em domicílio, não há nada nele que extrapole a idéia (repisada e requentada) de que a poesia deve se ocupar com as coisas do cotidiano. Notemos que o enjambement não tem outra função se não a de cortar em duas partes uma frase mal feita e sem imaginação poética.
Nicolas consegue ser apoético não porque deseje o ser, mas porque ele não sabe mesmo extrair poesia das coisas. Não sabe transformar o cotidiano em literatura. Não sabe manipular as camadas fônicas do texto. O poeta de Cuiabá, para usar uma bela expressão de Merquior, tem um “ouvido metálico”. Se não, vejamos (ou melhor, ouçamos): gente/ entende; vida/ fodida. Uma série de sons que não se coadunam, parecem se bater um no outro. É certo que há bons poetas, como Allen Ginsberg, que buscam uma musicalidade mais jazzística, mais cheia de ruídos, sem os conhecidos floreios melódicos do Simbolismo. Mas este não é o caso de Nicolas Behr: a explicação que me parece mais plausível é a de que ele tem realmente o ouvido mais duro do que granito. Acho que ele poderia ter lido mais os literatos de versos “insossos” e “inodoros”, ainda que fosse para servir como um não-paradigma.
Não me restam dúvidas de que há um certo ressentimento do escritor nas entrelinhas desse texto. O autor parece se sentir desprezado pela crítica e incomodado por não estar no cânone literário. Daí é que ele dispara uma série de adjetivos (que estão totalmente fora do ritmo poético) contra a poesia canonizada: os literatos de versos insossos, inodoros, insípidos, incolores, inócuos e inconseqüentes. Sem dúvidas estes foram os adjetivos mais pobres e inadequados que já vi em um “poema”. Não dizem nada e não produzem nenhum efeito sonoro-visual. Basta trocá-los por quaisquer adjetivos que não farão falta nenhuma ao texto.
O texto de Behr é simplesmente ruim, independente do tipo de leitura que se queira realizar. Alguns contra-argumentariam dizendo que se trata de uma subversão da linguagem, o que é próprio de uma poesia marginal. A verdade é que, para subverter a linguagem, é necessário que o poeta domine primeiramente os elementos que a constituem. Nesse sentido, podemos comparar a literatura com a música: para se construir música atonal, não basta simplesmente “destruir” a tonalidade. Existem regras e recursos (como nos mostrou Schoenberg) para que se consiga o atonalismo, que, aparentemente, parece uma mera desorganização da linguagem musical.
Dentre os aspectos formais do texto que mais nos chama a atenção podemos citar a “beleza visual/melódica” da última estrofe: sou mais eu e minha Kombi. Este é o desfecho de todo o conjunto de versos sofridos do “poema”. Um fechamento vazio, pobre de recursos poéticos e, além disso, demasiadamente bobo. Uma linguagem que quer ser cotidiana e impactante, que quer ser subversiva e experimental, mas que não consegue ultrapassar a linha da banalidade. Nicolas confunde poesia do cotidiano com banalidade escrita em versos e ligeiramente ornamentada – o que são coisas bem distintas. Prefiro a poesia que é poesia, por isso continuo lendo os literatos “inócuos” e “inodoros” como Camões, Drummond, Pessoa, Bilac, Cecília e Bandeira.
Até que tá bonitinha essa crítica impressionista, mas não convence.
ResponderExcluirEm primeiro lugar se identifique, pois o debate se torna mais sincero:não gosto de falar com fantasmas, mas com pessoas concretas. um blog, até onde sei, não é um espaço de desenvolver longas teses e debates muito extenso. assim, minha crítica é de fato impressionista.sobre o fato de não convencer, você deveria explicar melhor: por que não convence? em quais pontos minha leitura está equivocada?
ResponderExcluirnão convence é seu comentário, sem nenhum poder argumentativo e demasiado pobre. escreva um texto defendendo sua opinião, acho mais justo.
um abraço
Suas sábias palavras: "O texto de Behr é simplesmente ruim". Que ranso é esse? Ruim pra quem? Pra você? Pra quem lê? Pra mim, sinceramente, me diz algo. Você deve ser daquelas pessoas metidas a intectual que despreza o "simples". Ah, só pra lembrar, não fui eu quem escreveu o comentário acima. Me chamo Carla nogueira do DF. Abraço!
ExcluirOlá Carla do D.F. obrigado pela visita ao blog. Repito o que disse em comentários anteriores: blog é um espaço que não dá pra desenvolver longos pensamentos e teses complexas. por isso disse: o texto é simplesmente ruim. e é ruim mesmo, se comparado aos poemas de autores brasileiros da mesma linha poética. claro, como não sou Jesus Cristo e nenhum líder espiritual, falo não em nome da humanidade, mas o que acho. E o que eu acho tem fundamentação teórica. mas especificamente na teria literária ( e se quisermos ser mais específico ainda, no estruturalismo). outra coisa: não devemos confundir pobre com simples. o texto de Behr é pobre nos seus aspectos literários e não simples. simples é Mário quintana, Manoel Bandeira. simples e de extrema riqueza literária. Nicolas não é simples, é pobre, insuficiente e ruim mesmo.
ResponderExcluirnão sou uma pessoa metida a intelectual. Nem pretendo ser intelectual. Tenho um parco conhecimento de literatura, até mesmo porque minha formação é na área de música. mas utilizo minha sensibilidade para a arte e minha experiência de leitura para julgar um poema. qualquer pessoa que tenha um mínimo de sensibilidade para a literatura, saberá que Nicolas é um poeta fraco. E mais ainda: saberá que este poema citado é extremamente mal escrito. Talvez você precise lapidar melhor sua sensibilidade para a poesia. De qualquer forma, estamos abertos a diálogos. um abraço!
Olá, Alfredo Werney! "qualquer pessoa que tenha um mínimo de sensibilidade para a literatura, saberá que Nicolas é um poeta fraco". Então essa pessoa é fraca: http://www.nicolasbehr.com.br/mestrado-dissert_evaldo%20Figueiredo%20D%C3%B3ria%20J%C3%BAnior.pdf
ExcluirCarla nogueira, DF
Não entendo aonde você quer chegar. a discussão nem mesmo envolveu outra pessoa. repense seus comentários tolos e vai ler mais poesia, pra ver se aprende alguma coisa!
ExcluirIsso demonstra a pessoa "fraca" que você é. Como é que a poesia do nicolas é pobre, ruim, e existem pessoas que entendem de teoria da literatura - mais especificamente do estruturalismo russo- e utilizaram os poemas de behr para ser objeto de pesquisa? Ah, mais uma coisa: não leio poesia, sinto. Leio poemas. Abraço, sr alfredo!
ExcluirCarla nogueira, DF