NOTAS
SOBRE A MPB
(Alfredo
Weney)
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Arnaldo Antunes é um compositor cuja música
pode ser ouvida com os olhos e vista com os ouvidos. Devemos apreciar sua
música com a boca, com os olhos, com os ouvidos e com as mãos.
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Não há como negar que Jorge Ben é um
compositor importante, principalmente pela sua performance musical. A composição que mais gosto dele é aquela
feita por Chico Buarque “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta...”.
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João Gilberto descobre uma música diferente
dentro de cada música que interpreta. Pode-se dizer que, sem exageros, que sua
interpretação é tão pensada que chega a mudar o sentido de uma letra.
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Maria Bethânia interpreta ela própria. Ela
canta não para expressar o texto musical, mas para querer se autoelogiar. Ela
ganhou o status errôneo de maior intérprete da MPB, por parte de alguns músicos e ouvintes brasileiros, porque nossa cultura
musical foi edificada a partir de um equívoco: cantar bem é cantar notas
agudas, com exageros e vibratos desnecessários.
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O legado de Noel ainda está vivo. Basta ouvir
Chico Buarque, Zeca Pagodinho e veremos que a bossa de Noel está em forma.
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Noel é estupendo compositor. Isto é quase
unanimidade. Suas letras trazem o cotidiano para a nossa música, além de uma
nova perspectiva melódica e harmônica. Para mim, a maior obra de Noel ainda é
Chico Buarque.
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Guinga é uma das poucas novidades da atual
MPB. Ele dialoga com Tom Jobim, sem imitá-lo – como o fazem muitos discípulos
do maestro carioca. Além disso, ele nos mostra uma nova perspectiva do violão
de acompanhamento: o violão passa a não ser apenas um condutor da harmonia, mas
também um solista que contraponteia com o cantor.
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Lenine nos mostrou novas trilhas musicais.
Comprovou que a canção não morreu (como querem afirmar alguns compositores).
Chão, sem dúvidas, é um dos maiores álbuns da nossa MPB. Há ali Jackson do
pandeiro, Luiz Gonzaga, Hermeto Paschoal e toda uma tradição da MPB – com uma
perspectiva musical atualizada e reestruturada.
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Se o poeta é a antena da raça, como dizia
Ezra Pound, Gilberto Gil é antena da nossa MPB. Ele sempre percebe os fenômenos
sonoros, sociais e artísticos com antecedência. “Quanta” é um dos discos mais
lúcidos e inventivos da MPB...
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A obra de Chico Buarque é mais estudada do
que ouvida. Ele já virou vítima dos estudos sociológicos, linguísticos e
antropológicos. Basta você colocar Chico pra ouvir numa turma de amigos. Antes
da primeira pancada do pandeiro, já irão desenterrar os Karl Marx, os
Foucaults, os Greimas, os Jakobsons...
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Não há como negar: o manguebeat nasce
plenamente em Gilberto Gil. E isso não diminui em nada a importância do
movimento. Pelo contrário, torna o movimento mais respeitado musicalmente.
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Já ouvi muitos dizerem que o Belchior é um
dos maiores nomes da MPB. E descobri que é verdade mesmo. Seu nome completo é Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes.
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Elis Regina é uma grande cantora, não há como
negar. Mas também não há como negar que muitas vezes ela massacra o texto
musical pra cantar ela mesma, de forma extremamente afetada. Suas
interpretações, em vez de expressivas, muitas vezes são, para usar as palavras
de Augusto de Campos, escancaradamente “expressionistas”.
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Roberto Carlos é o nosso compositor mais
popular, como sabemos. Mas também é um dos mais criticados no meio musical. Eu
sempre fui motivo de riso por defendê-lo. Suas músicas, embora sem muito
rebuscamento, soam fluentemente e se impregnam facilmente em nossa memória,
como um “nó inextricável”. Suas interpretações respeitam o texto musical, são
afinadas e elegantes, além de se coadunarem muito bem com o todo do arranjo
musical. Vou continuar sendo criticado, mas vou continuar elogiando Roberto
Carlos...
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Djavan é um fabricante de biscoitos finos. Em
suas canções observamos uma poderosa harmonia de elementos musicais e poéticos:
letra, arranjo, melodia, interpretação, timbres formam um tecido indissociável.
Ao ouvirmos suas composições somos convidados a saborear cada acorde, cada
palavra, cada movimento dos lábios de quem interpreta. Djavan é a canção coada,
sem borra, pura e cristalina.
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Vinícius de Moraes é a comunhão total entre
literatura e música. Os músicos devemos agradecer todo dia pela existência, ainda que
breve (ele morreu aos 67 anos), desse poeta. Ele deu um toque de espontaneidade
e de naturalidade à cultura artística brasileira. Vinícius é uma avenida na qual os compositores
populares se encontraram com os escritores acadêmicos. E esse casamento, diferente dos que Vinícius teve, tornou-se inseparável.
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Tom Jobim “desdramatizou” a canção
brasileira. As orquestrações e os arranjos repleto de notas, de excessos tímbricos
(típicos do samba-canção e dos boleros), deram lugar a um discurso apolíneo,
equilibrado, com poucas notas e timbres. Tom Jobim ensinou aos compositores e
arranjadores brasileiros que “quem fala muito não tem nada a dizer”. Em Tom
Jobim, a beleza está nos detalhes, nas coisas minúsculas...
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Raul Seixas trilhou por um caminho da música
brasileira pouco explorado. Suas canções brotam do diálogo do rock com toda a
riqueza musical da cultura brasileira (Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Sérgio
Sampaio, iê-iê-iê, etc). Elas também se associam a certo misticismo religioso e
a um decadentismo romântico que não vemos muito na obra de outros compositores
brasileiros (parece ser uma dicção própria do maluco beleza). Raul Seixas derramou na
canção brasileira o espírito dionisíaco, psicodélico e transcendental. Ele é o Rimbaud da nossa
MPB.
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